"Como assim: alguém que já não fui?", disse o outro. De princípio é muito mais sentir do que explicar. É mais não-palpável do que palpável, é mais alma do que corpo. Na verdade, é como pensar: eu estou assim, mas não estava. E mal escrevi isso já não estou mais assim como estava.
O "estar" pede a mudança. é acoplado em seu motivo de uso o anseio de mudar. Não é preciso ir tão longe em pensamento pra alcançar essa idéia. E, é claro, todos nós também somos. "Ser" dá uma ideia mais essencial, menos dinâmica. Mas de alguma forma, que ainda não sei explicar, consigo ser e estar.
Eu penso em algo e sentimentos brotam e humores mudam e desejos transmudam e opiniões se alteram da água pro vinho e influências se sobrepõem e necessidades se criam e enquanto isso tudo acontece, eu penso. Cada milésimo é espaço suficiente para novas construções ou novos desmoronamentos de estado, de estar.
Sendo assim como sou, estou da maneira que bem entendo, mas sou, independente do estar. É tudo muito complexo mas ao mesmo tempo compreensível. Nós somos complexos e, logo, nós somos riqueza e potência de expansão.
Agora, mais do que nunca, estou sendo alguém que já - nunca - fui, estou escrevendo, trazendo pra fora em forma mais simples possivel o emaranhado de forças em conflito aqui dentro. O que era latente, pode vir a tona. Isso tudo que sinto pode, enfim, se materializar.
E daí, o que acontece? neste parágrafo já sou outro. Ou melhor, já estou outro. Já possuo outros sentimentos querendo se manifestar. Outros pensamentos querem vir à luz. Mas, calma! É só o início. Sou o desconhecido, Sou enredado em mistérios, paciência! Isso torna a viagem mais interessante. Que bom e ruim ser assim.
Escrever se torna a oportunidade. Oportunidade de conhecimento da minha posição (transitória), oportunidade de angustiar-me menos, de me expandir, de enxergar em minhas próprias palavras, cristalizado, o que ESTOU e o que SOU.