segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Mera isenção da pura malícia

Do azul célebre cintilam os poderosos fios de seda
que guiados por mãos elevadas
dão vida as ironias mal-vindas

Se todo dia - ao me erguerem - sinto formigar o corpo
dessemelhante não é de parte doutro
Doutrinados de desvirtudes nos corpos
por aquilo que conta o tanto de mãos quanto de olhos

E na esfera de diversos tons
a enclausura de ações
gera embate de destinos e emoções

Porque se a borboleta, leve, errante e intensa
distorce cosmos e sensações
que se deve dizer da confessa coincidência
a girar o mundo sob tolas intenções

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O tudo-tudo e o tudo-nada

Você já construiu um sentido para viver?
Já ligou os pontos entre sua história, seu contexto, os próprios afetos e o desconhecido?
Tem certeza de seu mundo? Você é consequência ou motivo dele?
Você tem suas próprias leis? Qual sua real importância?
Você é amado? Você se ama? Você só ama?
Mataria? Tem controle sobre as emoções?
É demagogo? Já pensou suficiente sobre tudo?
Acredita em Deuses? Acredita na política?
Pecou demais? Pecou de menos?
Consegue encostar e sentir a existência do outro?
Você é um? Você é todos? Você é tudo?

Viaje no tempo, lembre da infância. Você se lembra do dia em que acordou, Respirou como sujeito e pôde se dizer "você" de verdade? Pois então, a partir daí você começou sua saga pelo suposto "você". Concluiu o primeiro mundo. Harmonizou desejos e limites. Desanuviou a fronte e pode andar pela terra, pela linguagem, observar o sol e a lua. Ser o forte, o inteiro, o centro ou parte de um todo. Fez-se uno.

Até o momento em que tudo é colocado a prova. E pode ser um simples susto, um piolho, uma cor desconhecida ou um sonho. Há uma afecção diferente e "Você" sente uma presença. Esse mundo sofre um corte e a abertura de significados e possibilidades do ser o revestem por fora e por dentro. "Você" se encontra com Você! Se encontra com a incapacidade. Nota e desespera-se suavemente com a presença do tempo. Isso porque, na relação indissociável entre o tempo e você, somente o primeiro não irá extinguir. E o tudo-nada indecifrável se estabelece a sua frente. Eis o sofrimento. Eis o fluxo imoderado de ideias.

Mas você se esforça, pratica uma espera altamente reflexiva, ao que se pode chamar de uma ação coagulante. Abdica, cria outras certezas e respira sem aperto. Realinha ações e sensações. Distrai-se, ocupa o tempo e se enche de sentido. A vida é vida novamente. É tateavel e, mais do que isso, É crível. Pratica-se as lembranças mais confiáveis e estas são blindadas. Restabelece-se o convencimento. O tudo é, com convicção, tudo. Eis a primavera da existência, novamente...

Já dizia Vinicius: "O sofrimento é o intervalo entre duas felicidades"...

...Bom. Mas lembre-se sempre de Proust: "A felicidade é salutar ao corpo, mas só a dor robustece o espírito."

domingo, 3 de outubro de 2010

21 gramas...

"Quantas vidas nós vivemos?
Quantas vezes nós morremos?"

O que você é de antes, agora, com o que vem depois?
Sabe o que se sabe, muda-se o que não se sabe
Sabe que se sente, sente-se diferente
Mas sem se transformar.
Mudando as perguntas e mantendo as respostas
Virando a página, mas também o livro...

Mas ganho, de fato e de direito, só se denota ganho no limiar da perda.
Vive-se uma vida, morre-se pra ela.
O mudar é constante, mas jamais banal
Porque a mudança - com "m" maiúsculo - é fluxo, e não ciclo.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Noites sem o sol e a lua...

Entra, liga a luz. Senta, prosa e ri. Abraça as pernas, olha, aceita e deita. Enlouquece, trama, projeta e ama. Acorda. Olha a cor da parede, medita e firma o chão. Veste o exato, obstinada. Já de costas, anda, apaga a luz e sai. Vulto.

A luz acende e o torpor ascende. Inflamo, tramo e projeto. Aventura no meu leito, ventura pro meu peito. Amo e consumo. Admiro assombrado, sorrio inocente e emboto. Acordo e contorno sua alma. Você já está de costas e prestes a vultuar. Escuridão.


Agi convicto do tempo a meu favor. Grande besteira, pois a noite sempre vem. De forma ou outra eu sabia disto. Mas não vislumbrava estar imerso a ela sem luar...

E é assim, nesse retórico nada ou na presença do seu vulto, que eu sigo me perguntando: Como me perdoar e esquecer o cheiro da sua rosa?

domingo, 12 de setembro de 2010

A certeza e a teimosia

Porque ainda te amo? Acho que arriscaria dizer que porque metade insiste e outra metade persiste.

Insisto - teimo - em te amar porque você não sabe metade do meu amor. Porque em grande parte amei sem sabedoria. Amor sem discernimento. Impossível possuir algo que você não conhece. Assim sendo, jamais fui senhor desse amor. Fui incapaz de mensurar a grandeza daquilo que acontecia só aos olhos de um e do outro. Tanto mais de fazer lutar por aquilo que queria. Mesmo assim, dentro dos limites que eu mesmo criei, amei com uma pureza impensável até então. Um sentimento que já não envolvia todo meu corpo há tempos e não soube como domar. Precisaria ser quase o mesmo. Não precisava mudar tanto. Não deveria mudar. Eu te quis por tanto tempo, te amava de longe até o momento que se tornou impossível conter. Mas não estava preparado para te amar de perto e, principalmente, não estava preparado para receber seu amor.

O amor, por outro lado, persiste - conserva-se. Difícil explicar porque. É de ordem do desconhecido, que foge completamente ao campo da linguagem, do raciocínio. É algo ligado ao instinto ou talvez ao mais oculto no desejo e sua história. Nem ao viver e lembrar dos nossos momentos de infinita intensidade é possível entender. Você é diferente. Tanto aos meus olhos, por essa harmonia de feições, de movimentos. Quanto ao meu corpo, pelo seu cheiro, calor, pelos. Talvez as coincidências exerçam alguma força. O quão natural foi a aproximação, quão natural foi o beijo, o quanto eu já sabia o molde do abraço ou o carinho no cabelo que você adora. Certamente isto conta e é igualmente certo que transcende ao nosso entendimento. Persiste e persistirá a vontade imensa de beijar somente a sua mão, o seu pezinho, a sua boca. Você persiste em mim.

Pode parecer que a insistência é muito mais fácil de lidar e cessar. Entretanto, o que persiste no meu peito me inspira, me é inofensivo e mais simples de reger. Já essa insistência intencional do meu amor me mantém a esperança, mantém a certeza - e tão logo a responsabilidade - de que não foi só faísca do fogo que persiste. Me deixa a latente vontade de recuperar aquilo que sei, já existiu. Não é nada fácil.

Mas eu insisto: o amor pode amadurecer. Algumas coisas, em verdade, não acabam e nem deveriam acabar. Você tinha razão...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Os fins de noite em niterói

Já são 11 e 27. Céu sem estrela alguma. Vou andando tão devagar quanto possível sem dar bandeira. Aprecio o ar dessa cidade. Não sinto medo algum. Sinto o bom da solidão. Ao chegar às velhas barcas, compro meu pastel de um e pouco. Ao meu lado, meia dúzia assistem ao final do jogo na televisão. Há uma cumplicidade entre aqueles trinta e tantos a embarcar na última barca do dia. A única que não parece ser só um espaço de transição. Pelo contrário. É o consolo, ou até mesmo o bom do dia. As pessoas estão ali de verdade. É possível sentir uma fluidez do pensamento. Embarco e me sento na varanda. Eu e minha mochila, meus textos. Tento ler algum, mas logo desvio os olhares para as luzes incessantes da cidade e sinto um frio na barriga. Penso surpreso na microparticula que somos e, ao mesmo tempo, no poder de transformação que temos. Os carros, na ponte, parecem vagalumes em fila indiana. São pequenos e ao passar no vão central, parecem crianças a se divertirem em uma montanha russa, ao mesmo tempo que tem pressa de poderem sair dali para um lugar seguro. Já no meio da Baía, vê-se algumas estrelas e é como se você estivesse próximo aos Deuses. Fecho os olhos e sinto o vento e toda sua resistência. Percebo um mundo por fora sem vazios, deixando evidente os nadas do meu peito. Reflito, mas não aflito. Não havia nada mais preponderante naquele momento do que estar no mar, ao controle da cidade. Os significados pareciam ter sofrido uma espécie de metamorfose temporária. Sentia-me pequeno diante das coisas. Mas ao reconhecer a humildade, tornei-me senhor do meu mundo, dos problemas, do circo da vida. Eu parecia perceber a membrana de comédia na tragédia incógnita desse mundo construído. Logo em seguida, uma forte luz surgiu a minha frente. O avião cruzara o céu e me fizera lembrar que aquela sensação estava prestes a terminar. Levantei-me e passei por outras pessoas que pareciam ainda mergulhadas em seus próprios pensamentos, em seu próprio tempo. Provavelmente torcendo também para que a barca desse mais algumas voltinhas. Eu, já me dirigindo às escadas, sentia-me satisfeito. Sobretudo, por saber de ter feito algumas certas escolhas na vida. Aquela cidade, seus caminhos, sua mistura, sua energia me fazem outro. Na última barca eu apenas curto isso. Ao sentir o impacto contra a rampa, desço os 11 degraus e saio, andando leve e anestesiado, em uma solidão coletiva junto aos mais de trinta que desembarcam, ainda sonhando, mas quase acordando sob um céu que já não mais possui estrelas.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Amei errado

Diante do que já sentia, afobei em dar um passo a frente. Tendo o que eu queria, perdi o embalo procurando meu lugar. Decepcionei e frustrei. Mas o fardo é só meu, que vivo as trevas da paixão, sem sentir a legitimidade do sentimento. Sei que voltar no tempo é impossível. Mas é do impossível que eu preciso pra viver em paz de novo.

"Guardei
Sem ter porque
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar..."

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Vivendo o desamparo

Sei - pelo menos minimamente - lidar com tudo, menos a indiferença. A indiferença está para aquele que ama como o vinagre para o papiro. Sem chances, vai corroendo o dentro e, o imenso afeto vai tomando diversas formas, cada vez mais desconhecidas. Por fora, referências são transformadas a cada pontada no coração. Pela rua, olhares de admiração, antes sempre bem-vindos, parecem aparições de Mnemosine, pregando peças a mais uma tragédia grega da humanidade. Tentando fazer passar a lembrança como um bólide por meu corpo, acumulo passos e mágoas ao destino. Culpar-me nunca foi problema, até conhecer a culpa solitária. Que pode não ser sozinha, e ate mesmo nem culpa ser. Mas quem haverá de me convencer?

Nessa transformação súbita de espírito, é como se um corpo, antes completamente adormecido, vibrasse depois de uma luz branca lhe atravessar e dilatar repentinamente as pupilas. Após acomodar-se a nova configuração do mundo, inquieta-se com a verdade nua e crua. Com o desamparo produzido e, pior ainda, num cenário ainda inacabado, observa pontos cegos cheio de sugestões ao obvio, definitivamente desestruturantes e devastadores.

As bases sólidas se mostram prestes a segmentar. Adormecer - esquecer - permitiu que as rachaduras parececem inofensivas. Sentir a gravidade da situação foi consequência e, ao mesmo tempo, condição para o despertar. Enxergar o ocultado poderá ser o fim de tudo. A lógica, em ruínas, pelo menos não mais terá a presença dos nevoeiros. Porém, além disso, nada sei do depois.

Em verdade, neste momento, tudo é incerteza...
...menos a falta.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Miséria do Ser-sozinho

"- Precisar de dominar os outros é precisar dos outros..."

Que se entenda esse "precisar" com uma semântica de dependência doentia. Doença de caráter intencional de quem adoece. Vício de comparação. Mais do que simplesmente se basear, donde se promove esforço próprio, para si próprio, com o portanto de se consolidar, esforça-se e estimula-se o esforço alheio, resultando na transformação de fora e servindo-se disto, numa dinâmica maquiavélica, a doses mixadas de frieza e manipulação diárias. Afinal, constatar que já não há mais publico para sua vida faz chacoalhar o mal adormecido. Provoca o esquecimento dos meios diante do sujo e tentador fim. Fermenta a fraqueza psíquica que só findará numa explosão de vazio. E depois o que sobra é o que não existe mais. É o que precisa ser reconstruído. São detritos, significados amorfos. Para isso, as conseqüências tem de ser assumidas. Mesmo porque, a bondade, a partir de um certo momento, deixa de ser inocência.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Afinidade espiritual

"O Coração tem razões que a razão desconhece"

Viver e aproveitar o momento parecia ser a sentença de se restringir a ele. Meu coração queria mais. Ele queria garantir, preservar. Ele queria tornar possível dividir toda intensidade do sentimento em cada dia, cada hora, deixando que se anestesiasse o ser com sua completude. Só que a razão sabia. Ela sim sabia que controlar o mundo é tão difícil quanto falar sobre a morte. Lutar contra o movimento da vida é esquecer de como o ser chegou até ali. Paradoxalmente, mais valia talvez se deixar levar pelo princípio do prazer, que ser escaldado com o princípio de realidade. Mais valia a intensidade que o tempo. Se me perguntar, vou dizer que sempre soube e sempre reconheci isso como o jeito "certo" de fazer fluir o sentimento através do corpo. Mas diante da grandeza de emoções, o que conheci foi seu imprevisível modo de agir. Descobri que a razão nem sempre é mais ponderada e menos impulsiva que o coração. Ao final de toda neblina, sinto a dor do arrependimento, da culpa, da efemeridade da existência, frente aquele valioso momento. Mas sinto também uma felicidade, o prazer do alinhamento de desejos do espírito, que fez vivenciar outras possibilidades de ser no mundo. Tinha certeza que procurávamos a mesma coisa. Mais certo ainda é que continuamos a procurar outras coisas. Quem sabe um dia os mundos não se alinhem de novo...

"Viver a liberdade, amar de verdade, só se for a dois. Só a dois."

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Rabiscar! Depois do começo, o meio pro fim...

Faíscas dos poros

Meu amor é capaz de amar
Meu amor é capaz de ceder
Ele é capaz de sonhar
Embora destine a perder

Meu amor é capaz de poupar
Meu amor é capaz de entender
Só não é ele capaz de chorar
Sabendo que ama a você

Enquanto o fogo arder
Meu corpo não irá conter
As palavras vão esquentar
O gelo que se enveredar

Meu amor é um privilégio, que só você pode desfrutar
Aproveite! Desfrute essa dor! Até, enfim, a poesia acabar.

sábado, 7 de agosto de 2010

Luz aos pensamentos...

Interessante como historias de vida deixam consequências e ditam o percurso do amanhã. Se deparar a primeira vez com um fato é que o faz realmente perceber que ele é possível de acontecer. Antes, é tudo mera abstração, papo de filisteu. Você ouve, sabe que existe, mas aquilo não te toca. Ou melhor, não te mostra as consequências. Sem se importar muito, acreditando na coerência do mundo, você trilha seu caminho. Mas acontece que as decepções nunca vivem a margem. As decepções são condição primordial para se viver. Para a qualidade e quantidade de experiências que a existência exige que se tenha. Quando jovem, geralmente vivemos sedentos por vida, por sensações, cercados e deslumbrados com tanta coisa inédita. Não tivemos tempo ainda de pensar como elas se dão no mundo, como o outro pensa. Além disso, não há disputa por coisas tão cruciais e serias. Depois, mais maduro, a competição do mundo se amplifica. Isso porque envolve coisas e assuntos bem mais complexos e edificantes. Tanto dentro, quanto fora do ser. Tanto legitimas quanto representativas. E temerosas são as marcas pós a batalha. Irreversiveis, com certeza. uma das ideias que Sartre tinha na cabeça ao dizer que o inferno são os outros decerto era essa: a da disputa de espaço no mundo imaginário, tão fechado e pequeno em relação ao grande mundo. Minhas atitudes tem no outro o grande motivo. As degladiações frias entre os sujeitos são um câncer no real, uma resposta possível ao impossível que é a vida. Não há o correto. As pistas são mentirosas. Porém, você tem que se posicionar diante de tudo. Movimentar-se sempre. Caberá a cada um engrandecer ou diminuir esse mundo imaginário. A maioria opta pelo descomplicado. Possuem mundos de novela, com elenco limitado e figurantes sem sal e sem rosto. A referencia é e sempre será o desejo. Aquele que é acima de qualquer suspeita. E, logicamente, em conseguinte, o grande culpado. Ao pagar pra ver, paga-se o resto da vida. Isso é o que constatamos. Mas constatar é diferente de aprender. Como domar as vontades? Aumente o seu mundo. O crescimento esta aí.

"E são tantas marcas
que já fazem parte
do que sou agora
mas ainda sei me virar"

domingo, 25 de julho de 2010

Lacuna...

Reinventando o inventado, resignificando...

...fechado para balanço.

domingo, 30 de maio de 2010

Reprodução do pensamento

Cada Experiência, uma novidade
Cada nova idade, várias experiências
Vivo, me surpreendo e assimilo
Para novamente viver surpreso
Com uma nova mente de novidades.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Você e seu poder...

Hoje acordei disposto a produzir uma catarse a mim mesmo. Aliás, hoje, definitivamente, não acordei disposto. Acordei cansado como em outros tantos dias. Acordei no calor do meio dia meia boca. Isso porque ontem de noite o sono chegou tarde. No alto do máximo da minha capacidade de pensar, assuntos passavam como um trem bala e deixavam o vácuo. Mas algo exclusivamente me veio mais intensa e incessantemente e uma pergunta não saia da minha cabeça: como ela, e somente ela, consegue ter esse poder? comecei a pensar num ponto de referência: as diferenças. Mas veja, tudo que salta aos olhos é tão pobre, tão insignificante. Conheço centenas iguais ou mais bonitas, mais simpáticas, mais perfeitas que ela. E daí? Não conheço uma mais poderosa. O mistério a envolve. Me envolve. Se realmente tu te tornas eternamente responsável por tudo aquilo que cativas, como pode ela conseguir dormir todas as noites? Mas sabe, só conhecemos aquilo que nos interessa profundamente. Para o bem dela, é bom que não se interesse mais do que hoje. E para o meu bem, que não se interesse menos. Me impressiono mesmo é com sua pele. É por ela que desfere o golpe e me comprime em uma gaiola, permanentemente. Na presença ou na ausência. Seu tecido foi feito pra mim, mesmo que disso ela não saiba, nesse assunto, me atrevo a ser onisciente. Além disso, o calor que aquele corpo emana, somente em mim encontra o efeito mais devastador e maravilhoso. Se teus defeitos afloram, eu os absolvo antes mesmo de interpretá-los. Todo esse mundo, como se desenhou, só tornou evidente o que desde o início da vida de ambos estava sacramentado. Mas fascinante foi, ontem, pensar em como isso permanece em silêncio até o primeiro encontro das almas. Não, nunca ficaremos juntos. Mais fácil aprender japonês em braille. Mais. Mais fácil fazer sol aqui e no japão ao mesmo tempo. Porém, a culpa aqui é mera palavra. Levaremos a cumplicidade e os laços reservados. Aos outros amores, me desculpem o tempo perdido, mas decerto isso pesa mais em mim. Quanto a você, continue seguindo em frente, pro meu mundo girar. Pra gente ser feliz. Juntos.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Má "reputação", má consciência...

"O que sabemos de nós mesmos e o que guardamos em nossa memória, para a felicidade de nossa vida, não é tão decisivo como se pensa. Chega um dia em que aquilo que os outros sabem de nós (ou julgam saber) cai sobre nós - e a partir de então reconhecemos que é isso o que há de mais poderoso. Arranjamo-nos melhor com a má consciência do que com a má reputação."

Nietzsche com esse aforismo nos prova uma vez mais que era um homem a frente de seu tempo ou, pelo menos, um homem livre em uma época tão repressora. daí me veio à cabeça o seguinte: o que guardamos em nossa memória - e Nietzsche descreve dessa forma para marcar um traço de impessoalidade na personalidade - e que se torna "o que sabemos de nós" não passa necessariamente pela aprovação, reprovação ou indiferença do outro?

A história da humanidade traz muito disso. Quantos com tamanha eloquência e persuasão, através dos tempos, disseram quem é quem, o que é o que, de que lugar alguém é, de que lugar aquilo vem, e as culturas, assim, foram se moldando. No encontro de leis e verdades mundanas com o que há de essencial e original no animal humano, personalidades foram se criando e recriando e proporcionando o que há de mais improvável e livre, explodindo em complexidade cada vez maior.

Porém, dessa complexidade persiste a regra mais simples que determina o rumo dos juízos feitos por nós mesmos. Diferentemente da realidade, que se mostra objetiva, a verdade é puramente subjetiva. Logo, tendemos a procurar a aprovação em todos os lugares inimagináveis: Astros, Pedras, Formas,... e, claro, no outro.

Em tempos remotos, me convenço de que de todos os outros fatores se obtinha um efeito muito mais substancial do que do ser semelhante, na formação do caráter e da personalidade (se é que isso existia em tempos remotos). Porém, no mundo moderno, o que a outra pessoa sabe sobre você possui um poder certamente assombroso. A constatação de que há "alguéns" capazes de ter uma visão imparcial e completamente sem compromisso com um Ego (o seu ego) é de arrepiar, primeiro, e angustiar profundamente depois.

"Eu sou superior!"; "somos os mais inteligentes"; "só tenho atitudes corretas"... indivíduos que não tiverem em seus corações um caloroso fogo mantido por um forte indício ou crença que irá manter sua posição, pode começar a se preparar a enfrentar um conflito interno à primeira contradição. "você é um gordo". Claro que não o é. Mas como saber? Tudo que ele sabe vem de comparações, de invenções, categorias, padrões. Quem irá medir isso tudo pra formação de um denominador comum? Pois é...

As palavras têm força, mas assim como os músculos dependem do suporte dos ossos para realizar o golpe desejado, interessa também de que cabeça, de que figura simbólica os "vereditos" vem. Os medos e as crises existenciais provêm tanto de uma ausência de sentido, ou seja, uma liberdade exacerbada, uma vida de dúvidas, quanto de um mundo completamente fechado, onde tudo faz sentido e as constatações são cruéis, frias e verdadeiras. Em ambas, a opinião do outro é decisiva.

Diante disso, vejo os Titãs nunca saindo de moda e seu famoso e subestimado refrão "é preciso saber viver" pra lá de crucial. É a sinuca de bico da vida: vivemos sem o outro? Não. Vivemos bem com eles? Só quando convém...