sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Os fins de noite em niterói

Já são 11 e 27. Céu sem estrela alguma. Vou andando tão devagar quanto possível sem dar bandeira. Aprecio o ar dessa cidade. Não sinto medo algum. Sinto o bom da solidão. Ao chegar às velhas barcas, compro meu pastel de um e pouco. Ao meu lado, meia dúzia assistem ao final do jogo na televisão. Há uma cumplicidade entre aqueles trinta e tantos a embarcar na última barca do dia. A única que não parece ser só um espaço de transição. Pelo contrário. É o consolo, ou até mesmo o bom do dia. As pessoas estão ali de verdade. É possível sentir uma fluidez do pensamento. Embarco e me sento na varanda. Eu e minha mochila, meus textos. Tento ler algum, mas logo desvio os olhares para as luzes incessantes da cidade e sinto um frio na barriga. Penso surpreso na microparticula que somos e, ao mesmo tempo, no poder de transformação que temos. Os carros, na ponte, parecem vagalumes em fila indiana. São pequenos e ao passar no vão central, parecem crianças a se divertirem em uma montanha russa, ao mesmo tempo que tem pressa de poderem sair dali para um lugar seguro. Já no meio da Baía, vê-se algumas estrelas e é como se você estivesse próximo aos Deuses. Fecho os olhos e sinto o vento e toda sua resistência. Percebo um mundo por fora sem vazios, deixando evidente os nadas do meu peito. Reflito, mas não aflito. Não havia nada mais preponderante naquele momento do que estar no mar, ao controle da cidade. Os significados pareciam ter sofrido uma espécie de metamorfose temporária. Sentia-me pequeno diante das coisas. Mas ao reconhecer a humildade, tornei-me senhor do meu mundo, dos problemas, do circo da vida. Eu parecia perceber a membrana de comédia na tragédia incógnita desse mundo construído. Logo em seguida, uma forte luz surgiu a minha frente. O avião cruzara o céu e me fizera lembrar que aquela sensação estava prestes a terminar. Levantei-me e passei por outras pessoas que pareciam ainda mergulhadas em seus próprios pensamentos, em seu próprio tempo. Provavelmente torcendo também para que a barca desse mais algumas voltinhas. Eu, já me dirigindo às escadas, sentia-me satisfeito. Sobretudo, por saber de ter feito algumas certas escolhas na vida. Aquela cidade, seus caminhos, sua mistura, sua energia me fazem outro. Na última barca eu apenas curto isso. Ao sentir o impacto contra a rampa, desço os 11 degraus e saio, andando leve e anestesiado, em uma solidão coletiva junto aos mais de trinta que desembarcam, ainda sonhando, mas quase acordando sob um céu que já não mais possui estrelas.

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