quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Vivendo o desamparo

Sei - pelo menos minimamente - lidar com tudo, menos a indiferença. A indiferença está para aquele que ama como o vinagre para o papiro. Sem chances, vai corroendo o dentro e, o imenso afeto vai tomando diversas formas, cada vez mais desconhecidas. Por fora, referências são transformadas a cada pontada no coração. Pela rua, olhares de admiração, antes sempre bem-vindos, parecem aparições de Mnemosine, pregando peças a mais uma tragédia grega da humanidade. Tentando fazer passar a lembrança como um bólide por meu corpo, acumulo passos e mágoas ao destino. Culpar-me nunca foi problema, até conhecer a culpa solitária. Que pode não ser sozinha, e ate mesmo nem culpa ser. Mas quem haverá de me convencer?

Nessa transformação súbita de espírito, é como se um corpo, antes completamente adormecido, vibrasse depois de uma luz branca lhe atravessar e dilatar repentinamente as pupilas. Após acomodar-se a nova configuração do mundo, inquieta-se com a verdade nua e crua. Com o desamparo produzido e, pior ainda, num cenário ainda inacabado, observa pontos cegos cheio de sugestões ao obvio, definitivamente desestruturantes e devastadores.

As bases sólidas se mostram prestes a segmentar. Adormecer - esquecer - permitiu que as rachaduras parececem inofensivas. Sentir a gravidade da situação foi consequência e, ao mesmo tempo, condição para o despertar. Enxergar o ocultado poderá ser o fim de tudo. A lógica, em ruínas, pelo menos não mais terá a presença dos nevoeiros. Porém, além disso, nada sei do depois.

Em verdade, neste momento, tudo é incerteza...
...menos a falta.

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