domingo, 4 de março de 2012

Sem possível

Será possível respirar o ar dos esquecidos, remar para longe da certeza, suportar as pontadas de um coração, manter-se mudo com o berro, mastigar o destino e engolir a indiferença?
Tento sentir a cada segundo que estou caminhando diferente, pelo caminho mais fértil, pelo caminho mais iluminado. Tento enxergar o mesmo, diferente. A cada piscar. A cada frio na espinha. A cada agulhada de sofrimento. Tento, exaustivamente, lutar. Lutar firme contra o irreversível, lutar com minha espada de madeira contra o exercito da culpa, contra os caminhos que ficaram para trás, daqui, neste que estou, que escolhi, que escolheram.
Tento; luto, mas não tento o luto. Não sai da cabeça aquilo que me constituiu. Sou egoísta e prepotente. Quero o aprendizado e a felicidade! Quero caminhar e voar. Enxergar tudo limpo como num final de tarde e sentir (pulsar!) como um cego. Quero tudo, até o final, até quando não mais saberei quem sou. Até quando a esperança for algo que eu entenda, for algo que, ao mesmo tempo, exista aqui dentro e lá fora. Até quando não mais existir quando.
E é assim que é. Esforço e descanso. As vezes tão hercúleo quanto encarar o sol, as vezes tão natural quanto a tristeza do olhar o horizonte. É tudo jogo! Muda tabuleiro, mudam as peças, mudam até as regras! Mas o jogo não para...
Após a vida me deixar ouvir seu próprio coração, o chão desmorona atrás de mim a cada passo. Mas o abismo não me devora. O breu me aguarda, mas em espera omissa. O breu me guarda! Estranho, mas a verdade é que não me assusto...
Ah, mas há quanto tempo é assim! Vivia assustado com a grandeza da vida, da natureza. Mas deu tempo o suficiente para me acostumar a isto. O suficiente para acreditar na minha incerta segurança! Poderia dizer: "uma pena!", se soubesse ávidamente que possuo outra alternativa.
Mas desd'aquilo, daquela, sinto o tempero do mundo! E sem tê-la, o pior: o gosto do insosso.
Se fosse possível apenas não sentir! Mas não!
Se fosse possível passar por tudo de novo e não me culpar por fazer diferente desta vez e não tê-lo feito antes! Mas não!
Se fosse possível...ah, quantas dúvidas que poderiam me abrir aos novos tempos!
Quem sabe se novamente trocasse as respostas pelas perguntas...

"É impossível o meu possível!" ou "é impossível meu possível?"

sábado, 3 de março de 2012

O velho novo amor

O amor tem poder
Tudo pode; independente.
Esquenta o gelo, e ainda o derrama
Mente o senso, inventa luz, aviva o vivo
Encurta o mundo aqui, encolhe a vida ali
mas explode, explode e explode.
Explode a cada dia. Transcende a cada instante,
Nos torna impossíveis, surpreendentes ao olhar atento
Vitimas de nada, desorgulhosos e arrependidos
Rei, imperador e homem, sem necessidade do outro que afirme.
É o primeiro doce a cada momento; o último sentimento.
Coloca a incompreensão nas sombras, e o compreendido à sombra.
Assombra: O eu-sentido. Eu com sentido.
Quando vive a sua primavera...

...mas, como tudo que existe
Como tudo que nasce, vem à luz, pulsa e faz pulsar,
Afeto e afeta, acontece e muda,
possui, dentro - ou seria fora? - da primavera, o outono.
e desde então, sou só dúvida, só questão.

Sou só.
Eu e minha experiência, juntos e a sós. Eu e ela que até então fomos distintos de tudo e vivendo no nada sem qualquer constrangimento, agora precisamos encontrar um lugar, uma resposta, um apoio.
Encontrar um artesão. Aquele que tudo soube, tudo sabe e tudo saberá. Aquele que dará forma ao eu-amor, usando todo o concreto invisível, nos reenviando ao mundo.

Sei de tudo que posso fazer, mas nem de perto é isso que me deixa tranquilo. O que me impede o desespero é o acreditar na morte, no tempo, na mudança.
Na grandeza e na riqueza da vida, da existência e de sua versatilidade; independência.

Dela tudo espero, pra sempre e de novo; inclusive o velho novo amor.