terça-feira, 12 de outubro de 2010

O tudo-tudo e o tudo-nada

Você já construiu um sentido para viver?
Já ligou os pontos entre sua história, seu contexto, os próprios afetos e o desconhecido?
Tem certeza de seu mundo? Você é consequência ou motivo dele?
Você tem suas próprias leis? Qual sua real importância?
Você é amado? Você se ama? Você só ama?
Mataria? Tem controle sobre as emoções?
É demagogo? Já pensou suficiente sobre tudo?
Acredita em Deuses? Acredita na política?
Pecou demais? Pecou de menos?
Consegue encostar e sentir a existência do outro?
Você é um? Você é todos? Você é tudo?

Viaje no tempo, lembre da infância. Você se lembra do dia em que acordou, Respirou como sujeito e pôde se dizer "você" de verdade? Pois então, a partir daí você começou sua saga pelo suposto "você". Concluiu o primeiro mundo. Harmonizou desejos e limites. Desanuviou a fronte e pode andar pela terra, pela linguagem, observar o sol e a lua. Ser o forte, o inteiro, o centro ou parte de um todo. Fez-se uno.

Até o momento em que tudo é colocado a prova. E pode ser um simples susto, um piolho, uma cor desconhecida ou um sonho. Há uma afecção diferente e "Você" sente uma presença. Esse mundo sofre um corte e a abertura de significados e possibilidades do ser o revestem por fora e por dentro. "Você" se encontra com Você! Se encontra com a incapacidade. Nota e desespera-se suavemente com a presença do tempo. Isso porque, na relação indissociável entre o tempo e você, somente o primeiro não irá extinguir. E o tudo-nada indecifrável se estabelece a sua frente. Eis o sofrimento. Eis o fluxo imoderado de ideias.

Mas você se esforça, pratica uma espera altamente reflexiva, ao que se pode chamar de uma ação coagulante. Abdica, cria outras certezas e respira sem aperto. Realinha ações e sensações. Distrai-se, ocupa o tempo e se enche de sentido. A vida é vida novamente. É tateavel e, mais do que isso, É crível. Pratica-se as lembranças mais confiáveis e estas são blindadas. Restabelece-se o convencimento. O tudo é, com convicção, tudo. Eis a primavera da existência, novamente...

Já dizia Vinicius: "O sofrimento é o intervalo entre duas felicidades"...

...Bom. Mas lembre-se sempre de Proust: "A felicidade é salutar ao corpo, mas só a dor robustece o espírito."

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