Presente e insistente, a morte é a única que nunca morre. Indefinida e indefinível, nos oferece certezas e incertezas.
Discreta para a maioria no exato momento em que escrevo e em que você lê esse texto, quando aparece, aparece e fica por generoso tempo. De discreta a exibida, quase escancarada. É assim quando a sentimos perto. Seja noutro, seja em nós. E senti-la mais aflorada representa um choque de reflexão, uma interferência no anestesiamento de qualquer mundo, o sinal oriundo da divindade lembrando do engano da linearidade.
Difícil compreender que o sorriso de um dia, sumiu. Que as promessas e os projetos jamais deixarão de ser apenas pensamento. Que o tudo virou nada possível. Um desafio para nós sermos jogados ao mar das incertezas, ao oceano das possibilidades, sem uma ilha sequer. É lá que a morte nos joga. Mas não porque seja má por si só, mas porque "lá", existe. Lá existe, ali e aqui do lado, a todo tempo. Faz parte. A morte simplesmente passa e descortina nossa fronte. Deixa um rastro branco, limpo de doer os olhos e a mente, e nos tira do repouso. Indica o fim da história, mas força também sua continuação. Desgasta e desbota a realidade, mas fará lembrar, em algum momento ulterior, que uma chama extinguiu, mas o fogo ainda existe. Sua chama existe! Ela persiste e exige pressa! Pois ela, assim como a outra, finda.
Finda! E findará sempre brigada com a razão. Porque razão e vida são inimigas! De bandeira branca, claro. Mas somente até que a morte anuncie o conflito explicito e ponha fim a guerra fria. A batalha então, em grande porção das vezes, é árdua e longa. Mas possui toda nobreza. Traz robustez, oferece construção, oferece profundidade para o espirito. Oferece a visão dos espaços para os quais você pode - e deve - expandir. E oferece, por fim, ao menos, um aperto de mãos entre razão e vida, com menos mágoa e angústia.
Morte, sua certeza inibe todas as outras certezas e ainda consegue erguer e fazer viver. Imagina a vida sem a morte? Que sentidos teria? Nem sei se vida seria...