segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Noites sem o sol e a lua...

Entra, liga a luz. Senta, prosa e ri. Abraça as pernas, olha, aceita e deita. Enlouquece, trama, projeta e ama. Acorda. Olha a cor da parede, medita e firma o chão. Veste o exato, obstinada. Já de costas, anda, apaga a luz e sai. Vulto.

A luz acende e o torpor ascende. Inflamo, tramo e projeto. Aventura no meu leito, ventura pro meu peito. Amo e consumo. Admiro assombrado, sorrio inocente e emboto. Acordo e contorno sua alma. Você já está de costas e prestes a vultuar. Escuridão.


Agi convicto do tempo a meu favor. Grande besteira, pois a noite sempre vem. De forma ou outra eu sabia disto. Mas não vislumbrava estar imerso a ela sem luar...

E é assim, nesse retórico nada ou na presença do seu vulto, que eu sigo me perguntando: Como me perdoar e esquecer o cheiro da sua rosa?

domingo, 12 de setembro de 2010

A certeza e a teimosia

Porque ainda te amo? Acho que arriscaria dizer que porque metade insiste e outra metade persiste.

Insisto - teimo - em te amar porque você não sabe metade do meu amor. Porque em grande parte amei sem sabedoria. Amor sem discernimento. Impossível possuir algo que você não conhece. Assim sendo, jamais fui senhor desse amor. Fui incapaz de mensurar a grandeza daquilo que acontecia só aos olhos de um e do outro. Tanto mais de fazer lutar por aquilo que queria. Mesmo assim, dentro dos limites que eu mesmo criei, amei com uma pureza impensável até então. Um sentimento que já não envolvia todo meu corpo há tempos e não soube como domar. Precisaria ser quase o mesmo. Não precisava mudar tanto. Não deveria mudar. Eu te quis por tanto tempo, te amava de longe até o momento que se tornou impossível conter. Mas não estava preparado para te amar de perto e, principalmente, não estava preparado para receber seu amor.

O amor, por outro lado, persiste - conserva-se. Difícil explicar porque. É de ordem do desconhecido, que foge completamente ao campo da linguagem, do raciocínio. É algo ligado ao instinto ou talvez ao mais oculto no desejo e sua história. Nem ao viver e lembrar dos nossos momentos de infinita intensidade é possível entender. Você é diferente. Tanto aos meus olhos, por essa harmonia de feições, de movimentos. Quanto ao meu corpo, pelo seu cheiro, calor, pelos. Talvez as coincidências exerçam alguma força. O quão natural foi a aproximação, quão natural foi o beijo, o quanto eu já sabia o molde do abraço ou o carinho no cabelo que você adora. Certamente isto conta e é igualmente certo que transcende ao nosso entendimento. Persiste e persistirá a vontade imensa de beijar somente a sua mão, o seu pezinho, a sua boca. Você persiste em mim.

Pode parecer que a insistência é muito mais fácil de lidar e cessar. Entretanto, o que persiste no meu peito me inspira, me é inofensivo e mais simples de reger. Já essa insistência intencional do meu amor me mantém a esperança, mantém a certeza - e tão logo a responsabilidade - de que não foi só faísca do fogo que persiste. Me deixa a latente vontade de recuperar aquilo que sei, já existiu. Não é nada fácil.

Mas eu insisto: o amor pode amadurecer. Algumas coisas, em verdade, não acabam e nem deveriam acabar. Você tinha razão...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Os fins de noite em niterói

Já são 11 e 27. Céu sem estrela alguma. Vou andando tão devagar quanto possível sem dar bandeira. Aprecio o ar dessa cidade. Não sinto medo algum. Sinto o bom da solidão. Ao chegar às velhas barcas, compro meu pastel de um e pouco. Ao meu lado, meia dúzia assistem ao final do jogo na televisão. Há uma cumplicidade entre aqueles trinta e tantos a embarcar na última barca do dia. A única que não parece ser só um espaço de transição. Pelo contrário. É o consolo, ou até mesmo o bom do dia. As pessoas estão ali de verdade. É possível sentir uma fluidez do pensamento. Embarco e me sento na varanda. Eu e minha mochila, meus textos. Tento ler algum, mas logo desvio os olhares para as luzes incessantes da cidade e sinto um frio na barriga. Penso surpreso na microparticula que somos e, ao mesmo tempo, no poder de transformação que temos. Os carros, na ponte, parecem vagalumes em fila indiana. São pequenos e ao passar no vão central, parecem crianças a se divertirem em uma montanha russa, ao mesmo tempo que tem pressa de poderem sair dali para um lugar seguro. Já no meio da Baía, vê-se algumas estrelas e é como se você estivesse próximo aos Deuses. Fecho os olhos e sinto o vento e toda sua resistência. Percebo um mundo por fora sem vazios, deixando evidente os nadas do meu peito. Reflito, mas não aflito. Não havia nada mais preponderante naquele momento do que estar no mar, ao controle da cidade. Os significados pareciam ter sofrido uma espécie de metamorfose temporária. Sentia-me pequeno diante das coisas. Mas ao reconhecer a humildade, tornei-me senhor do meu mundo, dos problemas, do circo da vida. Eu parecia perceber a membrana de comédia na tragédia incógnita desse mundo construído. Logo em seguida, uma forte luz surgiu a minha frente. O avião cruzara o céu e me fizera lembrar que aquela sensação estava prestes a terminar. Levantei-me e passei por outras pessoas que pareciam ainda mergulhadas em seus próprios pensamentos, em seu próprio tempo. Provavelmente torcendo também para que a barca desse mais algumas voltinhas. Eu, já me dirigindo às escadas, sentia-me satisfeito. Sobretudo, por saber de ter feito algumas certas escolhas na vida. Aquela cidade, seus caminhos, sua mistura, sua energia me fazem outro. Na última barca eu apenas curto isso. Ao sentir o impacto contra a rampa, desço os 11 degraus e saio, andando leve e anestesiado, em uma solidão coletiva junto aos mais de trinta que desembarcam, ainda sonhando, mas quase acordando sob um céu que já não mais possui estrelas.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Amei errado

Diante do que já sentia, afobei em dar um passo a frente. Tendo o que eu queria, perdi o embalo procurando meu lugar. Decepcionei e frustrei. Mas o fardo é só meu, que vivo as trevas da paixão, sem sentir a legitimidade do sentimento. Sei que voltar no tempo é impossível. Mas é do impossível que eu preciso pra viver em paz de novo.

"Guardei
Sem ter porque
Nem por razão
Ou coisa outra qualquer
Além de não saber como fazer
Pra ter um jeito meu de me mostrar..."

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Vivendo o desamparo

Sei - pelo menos minimamente - lidar com tudo, menos a indiferença. A indiferença está para aquele que ama como o vinagre para o papiro. Sem chances, vai corroendo o dentro e, o imenso afeto vai tomando diversas formas, cada vez mais desconhecidas. Por fora, referências são transformadas a cada pontada no coração. Pela rua, olhares de admiração, antes sempre bem-vindos, parecem aparições de Mnemosine, pregando peças a mais uma tragédia grega da humanidade. Tentando fazer passar a lembrança como um bólide por meu corpo, acumulo passos e mágoas ao destino. Culpar-me nunca foi problema, até conhecer a culpa solitária. Que pode não ser sozinha, e ate mesmo nem culpa ser. Mas quem haverá de me convencer?

Nessa transformação súbita de espírito, é como se um corpo, antes completamente adormecido, vibrasse depois de uma luz branca lhe atravessar e dilatar repentinamente as pupilas. Após acomodar-se a nova configuração do mundo, inquieta-se com a verdade nua e crua. Com o desamparo produzido e, pior ainda, num cenário ainda inacabado, observa pontos cegos cheio de sugestões ao obvio, definitivamente desestruturantes e devastadores.

As bases sólidas se mostram prestes a segmentar. Adormecer - esquecer - permitiu que as rachaduras parececem inofensivas. Sentir a gravidade da situação foi consequência e, ao mesmo tempo, condição para o despertar. Enxergar o ocultado poderá ser o fim de tudo. A lógica, em ruínas, pelo menos não mais terá a presença dos nevoeiros. Porém, além disso, nada sei do depois.

Em verdade, neste momento, tudo é incerteza...
...menos a falta.